A Lei Municipal nº6.681/65 trata da questão dos aparelhos sonoros dentro dos ônibus em São Paulo. Segundo ela estão proibidos quaisquer aparelhos sonoros que possam incomodar os passageiros, como rádios, celulares com musica alta e TV’s.
Vejam que a lei não é nova, é de 1965 mas, como tudo no Brasil, uma lei ou não entra na moda ou é simplesmente esquecida depois de algum tempo.
São as duas facetas das leis no Brasil, ou você simplesmente ignora ou esquece depois de algum tempo, ela passa a “perder a validade”.
Pois bem, é comum sermos obrigados a aguentar a música alheia em celulares onde o dono se recusa a colocar os fones. Estes imbecis obrigam a todos a escutar suas músicas no máximo e absurdamente distorcidas, afinal, falamos de um celular e não de um som estéreo (som histérico, no mínimo).
Já ouvi muita opinião que beira o fascismo, o típico preconceito contra o pobre, como se estes fossem os únicos a ouvir suas músicas no máximo e em flagrante desrespeito à lei e ao próximo.
Coisas como “Não deveriam vender celular pra quem ganha menos de ‘x’ salários mínimos” ou “não deveriam permitir que Casas Bahia e outros lugares para pobres vendessem celular” ou, ainda mais direto “pobre não deveria ter celular”. Pérolas da nossa classe “mérdia” revoltada ou ainda, seguindo a moda twitter, #classemerdiawannabeelite, por ter que dividir o mesmo espaço com pessoas “inferiores”. É o ódio de ter que pegar ônibus, de ter que se misturar.
Aliás, que fique anotado, muito playboyzinho e engravatado ouve suas músicas no máximo em seus celulares de última geração, seja com fone ou sem. Aliás, isto é o que mais surpreende, por vezes, à mais de 10 passos de distância, podemos ouvir a música de um indivíduo que está com fone!
Espero que não me critiquem por torcer para o indivíduo ficar surdo. E rápido.
Mas, bem, o objetivo deste post é outro, revolta quanto à música alta, celulares e etc podem ser encontradas neste blog. Meu objetivo é tratar especificamente da terrível moda de TV’s nos ônibus.
O conteúdo da maior parte das empresas de mídia nos ônibus é, sem dúvida, lamentável. Frases de motivação pessoal tiradas do que há de pior na auto-ajuda (se é que algo se salva neste meio), horóscopo, clipes chupados do Youtube descaradamente e outras informações (in)úteis a qualquer indivíduo que passa horas em pé, num ônibus lotado.
Em alguns casos, como a TVO, ainda há salvação: alguns programinhas e desenhos com teor humorístico que ajudam a passar o tempo.
Do outro laod, porém, temos a Bus Midia que chega ao cúmulo de ter som. Sim, acreditem, programinhas inúteis e chatos num ônibus lotado e… com som!
Pensem apenas por um minuto na cena, Berrini, 6 da tarde, ônibus lotado, tudo parado na altura da R. Funchal. Dezenas de pessoas tagarelando, algum infeliz com o celular com pagode no máximo.
Pensaram na cena do inferno? Pois ainda pode piorar, a Bus Mídia ou a BusTV no ar, com som!
A Bus Mídia afirma não veicular seus programinhas com som, já a BusTV não só veicula com som- desrespeitando a lei – como ainda faz pouco caso dos que reclamam, afirmando que a maioria quer sim som, que o som é um direito do consumidor! Pode uma coisa dessas?
“Ter som é um direito do consumidor, pois há as minorias que não sabem ler e por isso não conseguem acompanhar as imagens e as legendas”.
A importância do respeito ao ouvido dos usuários de ônibus: “É claro que o som deve ser controlado, em torno de 30 decibéis para não interferir na conversa ou leitura de quem viaja. Deve ser tipo música ambiente, como nos restaurantes”.
Gostaria de convidar os donos, diretores e funcionários da BusTV para um passeio diário, às 6 da tarde, nos ônibus com TV’s desta empresa.
Onde está a SPTRANS, a prefeitura ou qualquer outro órgão (in)competente para solucionar este problema?
Mas calma, ainda pode piorar MAIS! A TV no máximo com o que de mais importante (sic) aconteceu na novela da Globo de ontem! Ou ainda, Malhação ao vivo!
Sim, senhoras e senhores, a solução é se jogar do ônibus e ir andando s próximos 10 km.
Este périplo pelo inferno não é ficção. Ou pelo menos, não deveria ser. Dia 17 de agosto, a partir das 7 da manhã, os passageiros – e os funcionários dos ônibus, como os cobradores e motoristas, os mais prejudicados – passaram a assistir à Globo nos ônibus. Agora você sequer tem o direito de não ser forçado a assistir uma novela, ela vai com você aonde você estiver, e não adianta reclamar!
“Como o barulho do ambiente pode prejudicar a compreensão, todos os programas são legendados. Em breve, alguns ônibus vão transmitir a programação ao vivo, em tempo real.”
O mais engraçado? A preocupação é com a qualidade do som e não com o passageiro, forçado a consumir a Globo!
A SPTrans, fingindo existir, proibiu no dia seguinte a veiculação dos programas da Globo. Mas calma, não foi pelo desconforto aos passageiros ou aos trabalhadores, e sim porque descumpre algumas normas:
“De acordo com a SPTrans, uma portaria exige a entrega do material com uma semana de antecedência, para a verificação do “cunho político, religioso e moral” do conteúdo.
Essa portaria está sendo revista por uma comissão da prefeitura. “
Respeito ao consumidor nem passou perto! Neste meio tempo, a programação global continua a ser veiculada e a Record ainda quer entrar na onda, levando a sua guerrinha particular para os ônibus.
Desrespeito à lei municipal é apenas o começo!
———————————————————
Update: Canalhice Liberada!
O jeitinho funciona mais uma vez.
Foi publicada, sábado, uma portaria no Diário Oficial da Cidade que autoriza a transmissão de mídia televisiva em tempo real.
A prefeitura oficialmente concorda que sejamos torturados dentro dos ônibus com TV’s passando novelas, Jornal Nacional e afins. Não adianta tentar escapar, seremos obrigados a escutar/ver as mentiras do JN e teremos de engolir as novelas da Globo enquanto passamos horas apertados em um ônibus lotado, parado no trânsito caótico de São Paulo.
Ao invés de atacar o problema central, o trânsito e o aperto, a prefeitura prefere enfiar goela abaixo uma forma absurda de “entretenimento” para fingir que as horas que passamos nos ônibus são ou podem ser agradáveis
Globo e Record querem transmitir suas programações nos 14 mil coletivos que circulam na cidade. Do conteúdo autorizado para publicidade, que inclui também peças impressas, 30% será destinado à grade de programação da mídia televisiva, com uso preferencial para mensagens de caráter institucional, de campanhas educativas e de utilidade pública promovidas pela Prefeitura. Em até 30 dias, a Globo deve começar a testar transmissões ao vivo de partes do Jornal Nacional e do Globo Esporte, além de apresentar um resumo dos capítulos anteriores das novelas.
A SPTrans afirma que o áudio é proibido mas, convenhamos, alguém acredita que isto será respeitado? A empresa veiculadora está autorizada a disponibilizar fones de ouvido. Sem comentários, imaginem fones sendo utilizados e reutilizados por milhões de pessoas ou, o mais provável, que encontrado uma forma limpa de se disponibilizar fones, meia dúzia de infelizes colocarão o som no máximo forçando de uma forma ou outra os demais a escutar o que não lhes interessa.
De uma forma ou de outra, todos perdemos.
A Assessoria de Imprensa da Secretaria Municipal dos Transportes informou que as três empresas que detêm os direitos de transmissão nos ônibus são a Bus Media (300 ônibus, ligada à Globo), a TVO (500 ônibus, parceira da Rede Bandeirantes) e a BUS TV (100 ônibus). A pasta não acredita em guerra de audiência com a autorização de transmissões ao vivo. O secretário Alexandre de Moraes, titular dos Transportes e presidente da SPTrans, disse que não comentaria detalhes da portaria.
Um dia cheio de trabalho não será suficiente, ao sair deste e entrar num ônibus veremos a saudável disputa entre bispos e a Globo. Nada melhor do que isto para enfrentar 2, 3 horas de trânsito. Respeito pelo usuário não passa nem perto! Vai ser delicioso ver a programação de qualidade (sic) de Record, Globo e Bandeirantes sendo forçadas diariamente ao usuário, sem que este tenha qualquer direito, poder de escolha, de veto, sem que tenha voz.
Marquem bem o nome, Alexandre de Moraes, o responsável por esta palhaçada toda. Secretário dos Transportes de Ka$$ab e presidente da SPTrans.